Por Patrícia Brito
Explorando a teoria poética compreendemos que a história da poesia é anterior à história da escrita, aparecendo nos primeiros registros da maioria das culturas letradas. Essa forma de expressão foi utilizada em obras antigas, tais como os vedas indianos (1700–1200) e os Gathas de Zoroastro (1200–900 a.C.). Utilizada nessas composições, a forma poética ajudou na memorização e na transmissão oral das histórias das sociedades antigas e pré-históricas.
Segundo o portal “Educa mais Brasil”, a poesia é uma forma de expressão marcada pela subjetividade, que tem como objetivo revelar pensamentos, sentimentos e estado de espírito. Ela retrata algo pela ótica da imaginação do poeta e do leitor. O site ainda continua revelando que entre os principais registros de poesias antigas, destacam-se os poemas épicos como a Epopeia de Gilgamesh, originado na Mesopotâmia, em escrita cuneiforme em tabletes de argila e, posteriormente, a epopeia grega “Ilíada e Odisseia”, os livros iranianos antigos Gathas Avesta e Yasna, e os épicos indianos Ramayana e Mahabharata.
Estudando o livro Poética de Aristóteles, conhecemos a teoria poética com mais profundidade. Logo nas considerações do tradutor explica que, a despeito de estar incompleta, a Poética constitui um estudo sistemático e minucioso de ao menos duas formas importantíssima da poesia: a trágica e a épica.
Aristóteles apresenta com muita clareza e precisão uma história descritiva da tragédia e da epopeia, paralelamente a uma análise e crítica de vários autores gregos dessas formas poéticas. (p. 07)
O livro é um estudo em fragmentos sobre a arte, narrativa em especial sobre a arte poética. Aristóteles expõe sua teoria na intenção de que a arte é vida poética e todas as artes supracitadas produzem imitação em ritmo, discurso e harmonia, quer isoladamente, quer em combinações.
A obra aborda a poesia e suas diferentes estruturas de um bom poema e a divisão do mesmo em suas partes componentes. O autor esclarece que a poesia é um "meio de imitação" que procura representar ou duplicar a vida por meio de caráter, emoção ou ação. Sua definição na narrativa poética fica assim,
A poesia narrativa é a imitação utilizando o verso, as narrativas, evidentemente, como na tragédia, devem ser constituídas dramaticamente, ou seja, em torno de uma ação una, integral e completa, construída por começo, meio e o fim, de modo que a obra possa, como um ser vivo uno e íntegro, produzir o prazer que lhe é próprio. (p. 82)
Aristóteles finaliza alertando que um poema contém impossibilidades…entretanto, se atinge o objetivo da arte, ou seja, se transmite uma impressão mais vivida a essa ou alguma outra parte da obra, a incorreção é admissível.
Após revisar e estudar Aristóteles com um único objetivo, li, conheci e apreciei “Cartas teixeirenses, ba” com mais carinho e cuidados, conhecendo o zelo de Erivan Santana pela arte, poesia e, claro, pela Academia Teixeirense de Letras.
Erivan Santana é poeta, contista e cronista. Obviamente que se destaca no verso, já tendo publicado três obras, quais sejam, “Para ler um poema”, “Baladas da misericórdia na primavera” e, por último, “Cartas teixeirense, ba”, que foi autografada no último dia 6 de junho, em Teixeira de Freitas.
Como prosador, ele é autor do livro de crônicas “Tempos sombrios: instantâneos da realidade”, que não faz muito tempo ganhou uma 2ª edição revista e ampliada.
Seja na poesia ou na prosa, Erivan Santana tem marcado presença e chamado a atenção de todos, seja na ATL ou fora dela, pela produção impressa e, também, pelos prêmios que vem colecionando aqui e acolá. Prova de que a semeadura foi bem feita e, por consequência, os frutos começam a aparecer.
Recentemente, Erivan esteve a convite da Secretaria Estadual de Educação na Bienal do Livro Bahia 2024, quando, não apenas expôs e autografou sua obra mais recente como também participou de debates. Em resumo, representou bem a ATL (sendo titular da Cadeira 36), Teixeira de Freitas e região.
Sobre o livro
O livro começa com a apresentação do próprio autor, que revela que está na terceira obra poética "Cartas teixeirense, ba”. O título reflete a identidade do autor com a cidade de Teixeira de Freitas, morador há 37 anos, menciona carinhosamente “Crônicas Teixeirenses” de Almir Zarfeg e “Carta Poema” de Cynara Novaes.
Portanto de alguma forma,
o lugar onde vivemos
acaba influenciando a
produção literária de um escritor
O Prefácio é assinado por Fernando Lago, poeta titular da cadeira 11 da Academia Teixeirense de Letras (ATL):
Livro é uma TARDIS , um Delorean, uma cabine de Bill & Ted. Ele nos faz viajar no tempo e no espaço a cada verso com que deparamos. Uma viagem de ida-volta-ida-volta-ida: teu livro é um zigue-zague no tempo.
Fernando explica que a obra ao mesmo tempo que percorre as ruas e boas lembranças em Teixeira de Freitas, em tempos anteriores, Erivan consegue passear poeticamente pelas ruas modernas , hoje, mais sombrias. Um zigue-zague temporal.
Há muito ainda o que se fazer por
você, pois nasceu com a sina do
progresso e do acolhimento a todos, o que somente se
concretiza com
saúde , educação,
paz e cultura para todos (p.16)
Começamos assim a explorar os versos de Erivan e admirá-lo pela comunicação da poesia com o contexto histórico e social. Em Br 101:Futuro do presente o poema é um marco na história da região, em poucos versos poeticamente conhecemos a história da construção da BR-101. Logo na página 20 aparece uma Aldravia. Aldravia é uma nova forma poética, marcada por características minimalistas e sucintas. O Boletim é um poema que causa angústia, pois trata do silêncio à espera de mais uma notícia nos meios de comunicação.
Será que estamos
no novo normal? (21)
Quem viver, verá também é um poema que causa angústia. Pois é uma verdade poética que propõe reflexão para os dias de medos e incertezas que poucos mudaram. Porém o autor encerra com um comunicado
Da vida, levo uma certeza
estarei
sempre em acreditar
em corpos famintos
por palavra ao vento,
telas no jardim e
canções ao amanhecer
Quem viver, verá
A partir de Luminares de Atenas fizemos uma viagem no tempo da literatura filosófica com alguns clássicos. A razão de Nietzsche; Encontrando Shakespeare.
Passeamos por poemas de cunho filosófico, cultural, histórico. Poemas com carga de sentimentos grandes como angústia, dúvida e sobre saber viver.
Um livro que conversa com o leitor sobre diversos assuntos desde notícias até músicas geração 80, 90, artes, dança, memória, líderes extremistas, doenças da alma, tagarelice da mente “textos em versos e em parágrafos se sucedem, diariamente[...] comprometido com escrita, com a leitura e com o magistério” (p.92) – revela o Posfácio escrito por Almir Zarfeg, presidente de honra da Academia Teixeirense de Letras.
O cronista perambula pelas ruas da cidade ,
procurando uma história...
quase ninguém tem tempo (p. 80)
Aldravias
Donadon explica que o movimento aldravista se propôs a criar uma arte que chama atenção, que insiste, que abre portas para interpretações inusitadas dos eventos cotidianos, em relatos daquilo que só o artista viu. Ele ainda continua,
A aldravia é uma nova forma poética, marcada por características minimalistas e sucintas. Criada em Mariana, expande-se, principalmente, pela internet e aponta uma via de saída para a poesia. O poema se constitui de até seis palavras-verso, de forma aleatória, porém preocupada com a produção de significado condensado, sem que isso signifique extremo esforço para sua elaboração. “A experiência de ler e produzir aldravias atua diretamente nos mecanismos de percepção e na capacidade de relatar, com linguagem sintética, sentimentos e aspectos da natureza e da vida”, descreve Andreia Donadon Leal.
O mundo da poesia é um mundo de descoberta não só para quem aprecia o gênero como estilo, mas principalmente fica interessante para quem resolve estudar e conhecer mais o gênero uma oportunidade única de ler com mais consciência, presença
leio o mundo
e
escrevo poesia
Referências:
*Aristóteles. Poética. Edipro, 2011. São Paulo. Tradução Edson Bini.
*Academia Mineira de Letras. https://academiamineiradeletras.org.br/eventos/inscricoes-abertas-ate-6-11-par a-oficina-de-aldravias-nova-forma-de-poesia-sintetica-criada-em-mariana-mg/ . 25.05.2024
*Bosi, Alfredo. A história concisa da Literatura Brasileira. 51. Ed. - São Paulo: Cultivamos, 2017
*Educa mais Brasil https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/lingua-portuguesa/poesia 25.05.2024
*Donadon-Leal, J.B. Nova Forma, Nova Poesia. https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3797797 . 25.05.2024
Biógrafa, ensaísta, escritora da cadeira 22 da Academia Teixeirense de Letras - ATL
Obrigado Patrícia, uma resenha mt bem feita sb "Cartas teixeirenses, ba", que vem enriquecer a obra deste humilde escriba que vos fala, um abç!